Não é fácil interpretar obras-primas e complexas da música clássica, de forma brilhante, e com cara nova. Para conseguir um feito como esse, é preciso um time de artistas de primeira grandeza. Coisa que, em Nova York, eu sei onde encontrar.
Em 13 de março de 2019, uma quarta-feira ainda um pouco fria em Manhattan, o David Geffen Hall estava lotado. Casa da Orquestra Filarmônica de Nova York, e uma das três salas de espetáculos principais do Lincoln Center, o prédio recebia naquela noite convidados ilustres.
No programa, cinco obras de Mozart: o músico alemão mais brilhante, do século 18. Os convidados especiais eram o maestro Manfred Honeck. No piano, Richard Goode, um dos mais importantes músicos da atualidade. Entre os quatro cantores solistas, estava o tenor americano, Ben Bliss, um dos meus favoritos. E, para completar, o sensacional Westminster Symphonic Choir, composto por jovens estudantes da Ridder University, em Princetown, Nova Jersey. Era a fórmula perfeita para uma jornada sonora de emoção e transcendência.
A noite começou com o Concerto para Piano Número 27, peça tocada pela primeira vez, por Mozart, meses de morrer, em dezembro de 1791. De extrema dificuldade, a obra desafiou o solista, que com majestade e virtuosidade, atingiu ritmos galopantes com lirismo leve e despretensioso. A noite começara bem.
Após o intervalo, o piano de calda foi retirado do palco. Para a segunda parte, entram em cena, junto com a 106 músicos da orquestra, os quatro cantores solistas e os 175 membros do coral. Memos antes da música recomeçar, confesso que estava arrepiado.
A partir daquele momento o programa previa obras fúnebres, que remitem à morte e à ressurreição. O maestro Honeck, que é diretor da Orquestra Sinfônica de Pittsburgh, encontrou uma maneira original de apresentar a obra mais importante da noite, o inacabado Requiem.
Para abrir, eles tocaram Masonic Funeral Music (1785). E depois, Ave Verum Corpus (1791). Sem pausa, como se fossem uma obra só, as três criações de Mozart se transformaram uma música nova: o efeito foi espetacular!
Ao ousar juntar as três obras, o maestro, se permitiu tocar o Requiem na forma inacabada, apenas com as notas compostas por Mozart. Após a morte de Mozart, o trabalho fora completado pelo aluno Franz Xaver Süssmayr, cuja edição foi por muito tempo o padrão para orquestras em todo o mundo. O problema é que é fácil notar aonde a sofisticação de Mozart termina e a inferioridade bem-intencionada de Süssmayr começa.
No programa daquela noite, Requiem foi tocado como Mozart o deixou. Da “Lacrimosa”, parte final da obra, entraram apenas fragmentos. Foi uma noite inesquecível!
Depois daquela noite na Filarmônica, caminhei de volta o hotel Mandarin Oriental New York, aonde estava hospedado. No trajeto de dois quarteirões sentia como se meu corpo ainda flutuasse nas notas musiacis.
Durante a temporada de concertos, que em geral vai de setembro até o final de abril, a Filarmônica de Nova York oferece cerca de três ou quatro concertos por semana. O repertório é variado, mas sempre recheado de convidados excepcionais.
Para incluir uma noite da música clássica na programação de viagem, agende-se com antecedência. Entre no site da Filarmônica. É fácil ver toda a programação, dia-a-dia. Você pode escolher seu assento e comprar direto, sem taxa de serviço. No dia do espetáculo, as entradas estarão a sua espera na bilheteria. Aproveite!
Enviado por: Administrador
Data de publicação: 14/04/2019 - 17:38
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